domingo, 13 de abril de 2008

Antes do Nascer do Sol



(...)

No que abençoa eu me tornei, e no que diz sim : e para isso lutei longamente e fui lutador, para que um dia tivesse as mãos livres para abençoar.

Esta porém é minha benção : estar sobre cada coisa como o seu céu próprio, como seu teto redondo,sua campânula de azul e eterna segurança : e venturoso é aquele que abençoa assim.

Pois todas as coisas estão batizadas na nascente da eternidade e para além de bem e mal ; bem e mal mesmo ,porém, são apenas sombras interpostas e úmidas tribulações e nuvens que passam. (...) sobre todas as coisas está o céu Acaso, o céu Inocência, o céu Eventualidade, o céu Desenvoltura.

"Por eventualidade"- (...) que eu restitui a todas as coisas; eu as redimi da servidão dos fins. Essa liberdade e serenidade celeste pus eu, igual a uma campânula de azul, sobre todas as coisas, quando ensinei que sobre elas e através delas nenhuma "vontade eterna" - quer.

(...) esta venturosa segurança encontrei em todas as coisas : que elas preferem ainda, sobre os pés do acaso, dançar.



o céu sobre mim, tu que és puro ! tu que és alto, esta é para mim tua pureza : seres para mim uma pista de dança para acasos divinos, seres para mim uma mesa de deuses para divinos dados e jogadores de dados.

Mas tu coras ? Pronunciei o impronuciável ? Amaldiçoei ao querer abençoar-te ? Ou é a vergonha de estar a dois que te faz corar ? Mandas-me partir e calar, porque agora – o dia vem ? O mundo é profundo- : e mais profundo do que o dia jamais pensou. Nem tudo pode ter palavras diante do dia. Mas o dia vem.

Ó céu sobre mim, tu que és pudico ! Tu que és ardoroso ! Oh, tu que és minha felicidade antes do nascer do sol ! O dia vem : apartemo-nos então.