quarta-feira, 21 de maio de 2008

Sofrimento e êxtase

(...) a tragédia grega era a inflexão poética da mitologia, a catarse trágica da emoção através da compaixão e do terror, o correspondente à purificação do espírito através do rito. A tragédia transmuta o sofrimento em êxtase. (...) Livre do vínculo com nossa parte mortal, através da contemplação daquilo que é grave e constante no sofrimento humano- o ser humano une-se simultaneamente , em compaixão trágica com o “sofredor humano” e em terror trágico com a “causa secreta”. Em consequência disso, um dia, com um grito de júbilo, o espírito pode saltar para aquilo que subitamente reconhece por trás da máscara. A tragédia dissolve-se e surge o mito.

“ Vossa face, a qual um jovem se esforçasse por imaginá-la, conceberia como a de um jovem ; um adulto, como a de um homem; um velho, como a de um velho. Quem poderia imaginar o mais verdadeiro e o mais adequado de todos os rostos- de todos e de cada um- como se não fosse de nenhum outro ? E como poderia ele imaginar , além de todos os conceitos, de todas as cores, adornos, e toda a beleza de todos os rostos ? Por conseguinte, aquele que avança para observar o Vosso rosto, enquanto ele formar qualquer conceito Dele, está longe de Vossa face. Porque todo conceito de face não alcança a Vossa face. E toda beleza que pode ser concebida é menor que a beleza de Vosso rosto; todas as faces tem beleza, mas nenhuma é a própria beleza, mas a Vossa face tem beleza e por ter beleza é ser. Ela é a forma que dá existência a cada forma bela. Em todos os rostos é visto o Rosto dos rostos, por trás de um véu e de um enigma.; não obstante desvelado, ele não é visto, até que acima de todas as faces um homem penetre em certo segredo e silêncio, onde não há nenhum conhecimento ou conceito de rosto. Esta névoa, nuvem, escuridão, revelará que Vossa face não pode ser encontrada a não ser velada; mas a própria escuridão revelará que vossa face está ali, além de todos os véus.”

(Nicolau de Cusa)