quinta-feira, 30 de julho de 2009

“ das profundezas chamo por vós... das profundezas chamo por vós. Permaneceu ainda uns instantes parada, o rosto sem expressão, lasso e cansado como se ela tivesse tido um filho. Aos poucos foi renascendo (...) frágil, respirando de leve (...) então começou a pensar que na verdade rezara. Ela não. Alguma coisa mais do que ela, de que já não tinha consciência, rezara. Mas não queria orar, repetiu-se mais uma vez, francamente. Não queria porque sabia que esse seria o remédio. Mas um remédio como a morfina que amortece qualquer tipo de dor. Como a morfina, que se precisa cada vez mais de maiores doses para senti-la. Não, ainda não estava tão esgotada que desejasse covardemente rezar em vez de descobrir a dor, de sofrê-la, de possuí-la integralmente para conhecer todos os seus mistérios. E mesmo que rezasse, terminaria num convento, porque para a sua fome quase toda a morfina seria pouca.. E isto seria a degradação final, o vício.”