sexta-feira, 27 de junho de 2008

Nirvana

“Tudo que é sujeito a causação”, disse o Buda a Maitreya- “é como uma miragem, um sonho,a lua vista na água, um eco; nem removível, nem existente por si. E a própria Roda da Lei é descrita nem como ´ela é ` nem como ´ela não é `. E tendo ouvido e recebido esta Lei com alegria, ide agora, felizes para sempre”. (...)

Assim, o Mahayana, “a grande (maha) barca (yana)” , é uma embarcação sobre a qual todos viajam- e, de fato, estão viajando- indo a lugar nenhum, já que todos estão extintos. É um passeio, um festival de júbilo. Ao passo que o Himayana, “a abandonada (hina) barca (yana)" , é uma embarcação diligente relativamente pequena, transportando apenas iogues através do redemoinho que eles desdenham, a caminho de absolutamente nenhum lugar !

quinta-feira, 19 de junho de 2008

A Era da Comparação

Quando os ousados navegadores do Ocidente, transportando em suas quilhas as sementes de uma nova era titânica, por volta de 1.500 d.C., aportavam ao longo das costas não apenas da América, mas também da Índia, e da China, floresciam no Velho Mundo as quatro civilizações desenvolvidas da Europa e do Levante, da Índia e do Extremo Oriente, cada uma com sua própria mitologia e considerando-se o único centro autorizado de espiritualidade e merecimento, sob o céu. Sabemos hoje que aquelas mitologias estão exauridas ou, pelo menos, ameaçadas de acabar : cada qual satisfeita de si dentro de seu próprio horizonte, dissolvendo-se, juntamente com seus deuses, em uma única ordem emergente de sociedade, em que, como Nietzsche em uma obra dedicada ao Espírito Livre, “as várias visões de mundo, costumes e culturas serão comparadas e vivenciadas lado a lado, de maneira impossível antes, quando a inclinação sempre regional de cada cultura estava de acordo com as raízes temporais e locais de seu próprio estilo artístico. Agora, finalmente, uma sensibilidade estética aguçada decidirá entre as muitas formas existentes que poderão ser comparadas- e se deixará morrer a maioria. Da mesma forma, está ocorrendo uma seleção entre as formas e costumes das moralidades superiores, cujo o fim só poderá ser a ruína dos sistemas inferiores. É uma era de comparações! Essa é sua glória- mas, mais justamente, também sua mágoa! Não tenhamos medo dessa mágoa.”

Das quatro direções, reuniram-se os quatro paradigmas: respectivamente, da razão humana e do indivíduo responsável, da revelação sobrenatural e da única verdadeira comunidade sob Deus, do êxtase ióguico na grande vacuidade imanente e da harmonia espontânea entre a ordem do céu e da terra – Prometeu, Jó, o Buda sentado, de olhos fechados, e o sábio errante, de olhos abertos.

E é hora de considerar cada um em sua puerilidade, bem como em sua majestade, de maneira bastante fria, sem indulgência ou desdém . Pois embora a Vida, como diz Nietzsche, “deseje ser iludida e viva da ilusão”, faz-se também necessário, em certas ocasiões, um momento de Verdade.”

sexta-feira, 13 de junho de 2008

“Sila ersinarsinivdluge”

“Como pode um homem saber como é a vida de uma mulher ?”, perguntou uma mulher abissínia , citada por Frobenius.

“ A vida de uma mulher é bem diferente da de um homem. Deus fez assim. Um homem é o mesmo, da época da circuncisão até o fim. É o mesmo antes de ter procurado por uma mulher pela primeira vez e depois. Mas, no dia em que a mulher goza de seu primeiro amor, ela é partida em duas. Torna-se outra mulher naquele dia. O homem depois do seu primeiro amor é o mesmo que foi antes. A mulher é, a partir do dia do seu primeiro amor, outra. E continua assim por toda a vida. O homem passa uma noite com a mulher e vai embora. Sua vida e seu corpo são sempre iguais. A mulher engravida. Como mãe ela é diferente da mulher sem filho. Ela carrega a marca daquela noite ao longo de nove meses em sua barriga. Algo cresce. Algo surge em sua vida, que jamais a deixa. Ela é mãe. Ela é e permanece mãe mesmo que seu filho morra, mesmo que todos os seus filhos morram. Porque, um dia, ela carregou o filho sob seu coração. E ele jamais sai do seu coração. Nem mesmo quando morre. E isso, o homem não sabe o que é. Ele não sabe nada. Ele não conhece a diferença entre antes e depois do amor, antes e depois da maternidade. Ele não sabe nada. Só a mulher pode saber e falar disso. É por isso que nossos maridos não nos podem dizer o que devemos fazer. A mulher só pode fazer uma coisa : respeitar a si mesma. Manter-se íntegra. Ela tem sempre que estar de acordo com sua natureza. Ela tem sempre que ser donzela e mãe. Antes de cada amor, ela é uma virgem, depois de cada amor, uma mãe. Nisso, pode-se ver se ela é uma mulher ou não.”

É certamente na interação e fertilização espiritual mútua dos sexos, não menos que nas lições aprendidas dos reinos animal, vegetal e celestial dos deuses, ou nas profundidades da experiência do transe xamanista, que se devem buscar as motivações das metamorfoses do mito.