sábado, 29 de agosto de 2009

Senhora

Los rios, las cadenas, la cárcel de si mesma (...)

desconheces quase toda tua totalidade, que contornos havia aos quinze anos aos vinte, lá dentro do ventre, que águas, plasma e sangue, que rio te contornava? Que geografia se desenhava no teu rosto, e o rosto daquela que te carregava na barriga, como era ? como te carregava essa que habitavas? Como eras antes que o amor surgisse entre aquelas duas almas, pai-mãe, quando ele era jovem e se perguntava que mulher se deitaria sob seu grande corpo, que fúria de palavras lhe viria à boca, amada, loca, luz que caminhou baça sob as águas, então eras tu? Sabes, às vezes penso que deves ter um homem jovem porque

sim

porque sabes muitas coisas, essas da alma, e um saber demasiado
oscurece el alma
isso mesmo, e porisso talvez alguém de vinte, vinte e cinco, meio diminuído, sensualão
Rimbaud tinha dezenove quando escreveu aquilo é, mas é raro, moçoilos são fracotes no UMM, e então continuando,

um de vinte, vinte e cinco talvez,
duro e vigoroso, um que não sucumba diante do
mosaico intumescido de cores vivas onde desenhas a vida, e num canto lá em cima desse grande mosaico um negrume de vísceras , um desespero só teu, esse negrume teu

que busca

es que busco La Cara, La Oscura Cara
bobagem. então continuando, esse muito jovem há de sorrir diante do teu discurso , te põe de imediato a mão nas tetas e diz teu Deus sou eu, (...), já me encontraste, e se ainda continuares com tuas pretensas justas palavras e tua cara de pedra quando falas na busca, esse muito jovem há de te mostrar já sei. uma bela caceta
isso. e delicado mas firme te faz abrir as pernas e

repete

sei. teu Deus sou eu.
acertaste.(...)
então sabes. escolhe alguém que não te leve a sério, porque
el alma de (...) se oscurece por lo mucho que sabe (...) se eras homem sabias desse turvo no peito, desse grande desconhecimento que de tão grande se parece a sabedoria, de estar presente no mundo sabendo que há um pai eternamente ausente.

(...) teu pai está morrendo, te chama

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Cego caminharei sobre granitos de fogo
Descarnado e demente para todos
Mas trovador de trinados
Do negro paraíso do teu rosto
Ou se quiseres, dobra-me.
Tua mão sobre a minha nuca
há de curvar o meu corpo até a cintura
Nos tonéis da pergunta. Hei de saber o fosso
Do nunca compreender. Como tem sido até agora
Sobre mim, esses ventos de areia do teu sopro
Ou aquieta-me. O coração junto ao musgo da pedra
Isento desta busca.

Com os meus olhos de cão

O fruto verde foi arrancado? Ele disse isso? O muro do outro lado da rua. Há certos muros que não devem ser vistos antes de envelhecermos: musgo e ocre, dálias sobre alguns, dilaceradas, sons que não devem ser ouvidos, pulsações da mentira, os metálicos sons da crueldade ecoando fundo até o coração, palavras que não devem ser pronunciadas, as eloqüentes-ocas, as vibrantes de infâmia, as rubras de sabedoria, latejantes. Sustos. Como me sinto? Como se colocassem dois olhos sobre a mesa e dissessem a mim, a mim que sou cego: isto é aquilo que vê. Esta é a matéria que vê. Toco os dois olhos em cima da mesa. Lisos, tépidos ainda (arrancaram há pouco), gelatinosos. Mas não vejo o ver. Assim é o que sinto tentando materializar na narrativa a convulsão do meu espírito. E desbocado e cruel, manchado de tintas, essas pardas-escuras do não saber dizer, tento amputado conhecer o passo, cego conhecer a luz, ausente de braços tento te abraçar (...)

Daqui onde estou posso ouvi-lo pensando da lucidez de um instante à opacidade de infinitos dias, posso ouvi-lo pensando nas diversas formas de loucura e suicídio. A loucura da Busca, essa feita de círculos concêntricos e nunca chegando ao centro, a ilusão encarnada ofuscante de encontrar e compreender. A loucura da recusa, de um dizer tudo bem, estamos aqui e isto não basta, recusamo-nos a compreender. A loucura da paixão, o desordenado aparentando ser luz na carne, o caos sabendo à delícia, a idiotia simulando afinidades. A loucura do trabalho e do possuir. A loucura do aprofundar-se depois olhar à volta e ver o mundo mergulhado em matança e vaidade, estar absolutamente sozinho no mais profundo.
Daqui onde estou posso ouvi-lo pensando como devo matar-me? Ou como devo matar em mim as diversas formas de loucura e ser ao mesmo tempo compassivo e lúcido, criativo e paciente, e sobreviver? Como pode viver o velho amor em mim se compreendi o instante do Amor e agora pertenço ao mundo dos mudos e a garganta ancha de vazios?

domingo, 16 de agosto de 2009

"Vita brevis, sensus ebes, negligentiae torpor et inutiles, ocupationes nos paucula scire permittent. Et aliquotients scita excutit ab animo per temporum lapsum frudatix scientiae et inimica memoriae praeceps oblivio". (Nicolau Copernico)

" (...) je saisis en sombrant que la seule verité de l´homme, enfim entrevue, est d´être une supplication sans réponse." (Georges Bataille)

sábado, 15 de agosto de 2009

SECO ESTUDO DE CAVALOS




DESPOJAMENTO

O cavalo é nu.

FALSA DOMESTICAÇÃO

O que é cavalo ? É liberdade tão indomável que se torna inútil aprisiona-lo para que s irva ao homem: deixa-se domesticar mas com um simples movimento de safanão rebelde de cabeça – sacudindo a crina como a uma solta cabeleira- mostra que sua íntima natureza é sempre bravia e límpida e livre.

FORMA

A forma do cavalo representa o que há de melhor no ser humano. Tenho um cavalo dentro de mim que raramente se exprime. Mas quando vejo outro cavalo então o meu se expressa. Sua forma fala.

DOÇURA

O que faz o cavalo ser de brilhante cetim? A doçura de quem assumiu a vida e seu arco-íris. Essa doçura se objetiva no pelo macio que deixa adivinhar os elásticos músculos ágeis e controlados.

OS OLHOS DO CAVALO

Vi uma vez um cavalo cego: a natureza errara. Era doloroso senti-lo inquieto, atento ao menor rumor provocado pela brisa nas ervas, com os nervos prestes a se eriçarem num arrepio que lhe percorria o corpo alerta. O que é que um cavalo vê a tal ponto que não ver o seu semelhante o torna perdido como de si próprio ? É que – quando enxerga – vê fora de si o que está dentro de si. É um animal que se expressa pela forma. Quando vê montanhas, relvas,gente, céu- domina homens e a própria natureza.

SENSIBILIDADE

Todo cavalo é selvagem e arisco quando mãos inseguras o tocam.

ELE E EU

Tentando pôr em frases a minha mais oculta e sutil sensação- e desobedecendo à minha necessidade exigente de veracidade- eu diria : se pudesse ter escolhido queria ter nascido cavalo. Mas- quem sabe- talvez o cavalo ele-mesmo não sinta o grande símbolo da vida livre que nós sentimos nele. (...) O melhor cavalo o ser humano já tem? Então abdico de ser um cavalo e com glória passo para a minha humanidade. O cavalo me indica o que sou.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sim, estou apaixonado por Macabéa, a minha querida Maca, apaixonado pela sua feiúra e anonimato total pois ela não é para ninguém. Apaixonado por seus pulmões frágeis, a magricela. Quisera eu tanto que ela abrisse a boca e dissesse:

-Eu sou sozinha no mundo e não acredito em ninguém, todos mentem, às vezes até na hora do amor, eu não acho que um ser fale com o outro, a verdade só me vem quando estou sozinha.

Maca, porém, jamais disse frases, em primeiro lugar por ser de parca palavra. E acontece que não tinha consciência de si e não reclamava nada, até pensava que era feliz. Não se tratava de uma idiota mas tinha a felicidade pura dos idiotas. E também não prestava atenção em si mesma : ela não sabia. (Vejo que tentarei dar a Maca uma situação minha : eu preciso de algumas horas de solidão por dia senão “me muero”).
(...)
Silêncio.

Se um dia Deus vier à terra haverá silêncio grande.
O final foi bastante grandiloquente para a nossa necessidade ? Morrendo ela virou ar. Ar enérgico? Não sei. (...) No fundo ela não passa de uma caixinha de música desafinada.
Eu vos pergunto:

- Qual é o peso da luz?

E agora (...) Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas- mas eu também?!
Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.
SIM.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A viagem

Impossível explicar. Afastava-se aos poucos daquela zona onde as coisas têm forma fixa e arestas, onde tudo tem um nome sólido e imutável (...)
De profundis? Alguma coisa queria falar... De profundis... Ouvir-se! prender a fugaz oportunidade que dançava com os pés leves à beira do abismo. De profundis. Fechar as portas da consciência. (...) De profundis. Vejo um sonho que tive : palco escuro, abandonado atrás de uma escada. Mas no momento em que penso : "palco escuro" em palavras , o sonho se esgota e fica o casulo vazio. (...)
De profundis. Deus meu eu vos espero, deus vinde a mim, deus, brotai no meu peito, eu não sou nada e a desgraça cai sobre a minha cabeça e eu só sei usar palavras e as palavras são mentirosas e eu continuo a sofrer, afinal o fio sobre a parede escura.(...) deus vinde a mim , eu não sou nada eu sou menos que o pó e eu te espero todos os dias e todas as noites, ajudai-me, eu só tenho uma vida e essa vida escorre pelos meus dedos e encaminha-se para a morte serenamente e eu nada posso fazer e apenas assisto ao meu esgotamento a cada minuto que passa, sou só no mundo, quem me quer não me conhece me teme e eu sou pequena e pobre (...)

O que nela se elevava não era a coragem, ela era substância apenas (...) ela existia e o que havia dentro dela eram movimentos erguendo-a sempre em transição. Talvez tivesse alguma vez modificado com sua força selvagem o ar ao seu redor e ninguém nunca o perceberia, talvez tivesse inventado com sua respiração uma nova matéria e não o sabia (...) um dia virá em que todo o movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, eu serei forte como a alma de um animal (...) não haverá espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante (...) serei brutal e malfeita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não entende, me ultrapassarei em ondas, ah, Deus e que tudo venha e caia sobre mim, até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá o meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo.