Num recanto de uma sala junto a uma janela entreaberta
estou como se estivesse protegido por uma cúpula de folhagem
e escrevo não sobre a folha mas sobre a pedra azul do dia
e as minha palavras refletem o murmúrio do sol e a língua do vento
Talvez elas venham também de um fundo obscuro
procurar o espaço visível com a sua sede submersa
mas eu não conheço o que as move nem o seu alvo oscilante
No entanto a claridade da página é um álcool leve
que vai ardendo ao sopro da matéria
que vou vislumbrando em lentos movimentos
e assim vejo o vento ordenando-se como uma veia
porque a transparência é cega e o seu silêncio emudece-me.