segunda-feira, 18 de janeiro de 2010



- Mas nas suas viagens é impossível que você nunca tenha estado entre laranjeiras, sol e flores com abelhas. Não só o frio escuro mas também o resto ?

-Não, disse sombria. Essas coisas não são para mim. Sou mulher de cidade grande.

- (...) essas coisas são para todo mundo. É porque você não aprendeu a tê-las.

- E isso se aprende ? Laranjeiras, sol e abelhas nas flores ?

- Aprende-se quando já não se tem como guia forte a natureza de si próprio: (...) pode-se aprender tudo, inclusive a amar! E o mais estranho, pode-se aprender a ter alegria!

- Diga o que você quer que eu aprenda, disse ela com inesperada ironia. O Cântico dos Cânticos ?

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

UMA APRENDIZAGEM

OU O LIVRO DOS PRAZERES

A origem da Primavera
ou
A Morte Necessária em Pleno Dia

, (...)

Só que ela não queria ir de mãos vazias. E assim como se lhe levasse uma flor, ela escreveu num papel algumas palavras que lhe dessem prazer: “Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse casa dele, e é. Trata-se de um cavalo preto lustroso que apesar de inteiramente selvagem- pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela- apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo : come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. (...) Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo-casa é livre ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesma que está relinchando de prazer ou cólera, a gente se assusta com o excesso de doçura do que é isto pela primeira vez.
(...) ia gostar, ia pensar que o cavalo era ela própria. Era ?